segunda-feira, 27 de junho de 2011

Amar

Cabo, 10-1-1997


Vês! a escuma branca
Da nossa praia
Com um sorriso claro
Que se iguala
À beleza das nuvens e da luz.

Vês! ainda escrevo teu nome na areia
Onde mora o silêncio.
Onde o sol não clareia
E apagam-se aos poucos
Os meus sonhos azuis.

Onde acabam-se os versos
Que um dia cantei.
Onde em dias dispersos
Te salvei
E te dei o meu mundo.

A todo instante, vejo fantasmas dizendo amém.
Vi a flor desabrochando,
Espalhando as pétalas dos sentimentos.
Senti teu beijo sonhando
E acordei do meu sono em contentamento.

Sou teu anjo de luz
Trago no peito
O amor que conduz
Todos os momentos,
Todos os pecados,
 Toda madrugada,
Toda primavera.

Sei que a distância
Insiste em nos separar.
Sei que o passado morre,
Mas o meu sangue corre
Indo te buscar.

Quero dormir para sempre.
Fechar meus olhos  para te olhar.
Ao menos assim,  eternamente,
Em cada sonho
Poderei te amar. 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Não

Cabo,1997



Ah o tempo! Não posso voltar o tempo, só posso o tempo seguir.

Até que o tempo morra,

Até que alma deixe de existir.



Somente o vento percorre o tempo.

Não sou o vento.

Eu sou a lua que acorda o medo,

A cigarra que anuncia a noite e promove uma serenata chata, chata,

Como a serenata promovida pelos sapos, rãs e girinos,

Na época em que chove muito por cá.



E aquele canto desafinado anunciando o dia.

Ah! Eu também sou o galo que toda madrugada,

Feito vitrola arranhada, tagarela aos quatro cantos a mesma melodia.

Sou aquela chuva que chega num dia lá na praia e estraga o verão.

Ah! Eu sou aquele santo forte que por mais que os coitados implorem

Não manda água para o sertão.

Sou um homem que não tem defeito,

Uma mulher que não tem perdão,

Sou um racista revolucionário negro,

Sou um banqueiro que lidera um arrastão,

Sou um psiquiatra louco, sentado num banco, na sela de uma detenção.



Não sou louco! Não sou louco! Sou um simples cidadão!

Que chora nas tempestades em dias de verão.

Que vê que essa cidade não tem jeito não.



A cidade não tem defeitos?

São realmente perfeitas a miséria e a prostituição, ou seria melhor dizer,

Os gravatinhas e a corrupção.

É, o capitalismo não tem defeitos.

É realmente perfeito não se poder abrir a boca e dizer: Não!!!