quarta-feira, 22 de junho de 2011

Não

Cabo,1997



Ah o tempo! Não posso voltar o tempo, só posso o tempo seguir.

Até que o tempo morra,

Até que alma deixe de existir.



Somente o vento percorre o tempo.

Não sou o vento.

Eu sou a lua que acorda o medo,

A cigarra que anuncia a noite e promove uma serenata chata, chata,

Como a serenata promovida pelos sapos, rãs e girinos,

Na época em que chove muito por cá.



E aquele canto desafinado anunciando o dia.

Ah! Eu também sou o galo que toda madrugada,

Feito vitrola arranhada, tagarela aos quatro cantos a mesma melodia.

Sou aquela chuva que chega num dia lá na praia e estraga o verão.

Ah! Eu sou aquele santo forte que por mais que os coitados implorem

Não manda água para o sertão.

Sou um homem que não tem defeito,

Uma mulher que não tem perdão,

Sou um racista revolucionário negro,

Sou um banqueiro que lidera um arrastão,

Sou um psiquiatra louco, sentado num banco, na sela de uma detenção.



Não sou louco! Não sou louco! Sou um simples cidadão!

Que chora nas tempestades em dias de verão.

Que vê que essa cidade não tem jeito não.



A cidade não tem defeitos?

São realmente perfeitas a miséria e a prostituição, ou seria melhor dizer,

Os gravatinhas e a corrupção.

É, o capitalismo não tem defeitos.

É realmente perfeito não se poder abrir a boca e dizer: Não!!!

2 comentários:

  1. Noooossa, adoro essa poesia, é linda, linda, linda, é realmente perfeita :D Beijos maninha, coloca as outras tb, saudades de ouvir/ler tuas poesias, vc sabe que sou sua fã numero 1 rsrrs

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  2. Oi meu amor! não vejo a hora de vc publicar todas as suas poesias! ficarei imensamente feliz !!! te amo

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